oscar,
não precisa se despedir — o abandono já basta. olhar nos olhos seria sacrifício demais — e lhe exigiria mentir. além do quê, faltariam palavras, a voz falharia, e tudo ficaria exatamente como está — no parado. por isso, vou facilitar as coisas: abreviar a história, noticiar o céu e engolir, de uma vez, essas verdades inventadas. a seguir, farei qualquer coisa muito intensa como gritar — antes que os vermes cheguem.
juliet,
agora que já sabe que toda dor um dia acaba, larga o cigarro e vem pra perto de mim. me toma pra si e diz que quer cuidar de mim. um sorriso por um beijo? tua alma aflita pede o conforto da minha. minha alma, o abrigo da tua. me dá um milhão de beijos? desejo do cheiro teu no corpo meu. da graça tua. silhueta & espelhamento. doçura & ventania. devaneio.
juliet,
tenho odiado cada vez mais esta solidão acompanhada. e todas as outras. e não se trata de fobia social. ou agouro alheio. deve ser mesmo por culpa das máscaras. troquei a de princesa pela de espantalho. e não é pra isso que servem? funcionou. ao menos é o que parece. todos a minha volta se foram. e pior: parecem felizes com a situação. agora é pelos jornais que sei dos desejos e das vidas compartilhadas. dos finais felizes. esses de ficção: troca de alianças, juras de amor e promessas públicas de altar. só não dão a receita. deve pertencer a alguma seita maldita. ingresso? selar pactos com o demônio. e aí mora a incompatibilidade. você sabe. enlaces com o mal dito não são do meu feitio. prefiro mesmo me abastecer da tua doçura, baby. não demore. pode ser tarde.
juliet,
as soluções humanas não têm resolvido — e o meu repertório parece no fim. é que não sou assim forte como você pensa — e todos têm certeza. acho até que me cansei de bancar a forte/doce, independente/serena, decidida/leve. me empresta agora a tua mão? quero sentir o gosto da fumaça de cigarro na tua boca, registrar o que sobrou da água barrenta nos dedos e tocar de novo o traçado que só ela tem.
charlie,
não sei o que quis dizer com não me levar tão a sério. minhas fantasias são todas reais, baby — orgânicas, falíveis. e, de um jeito ou de outro, existem porque você existiu antes delas — em desejo, em confissão: profusão da carne, incandescência afetiva, turbilhão. porque é bonito e sensato saber que você existe desse jeito em mim — a ponto de me ensinar a gostar de viver.
charlie,
não adianta sumir, navegar pra bem longe, se distanciar daqui —
o mar vai sempre te levar pra perto de mim.
a menos que tudo se acabe, os dias terminem,
e a gente desista disso que você chama de ressaca
e eu prefiro chamar de desejo.
não me deixa aqui sozinha, vai! compensa a espera, a reserva especial, o plano raso da vida. porque agora eu já sei esperar. também aprendi a controlar os sentidos, marchar lento, transformar loucura em leveza — vazio em beleza —, me apaziguar. você me fez assim — quando me colocou de frente pra vida e, sem dizer, me fez ouvir: você não está mais sozinha.
Eu como, rio
Brinco e Pulo

Sento choro
Me canso
e Durmo...
eu sei que a vida tem disso.
por isso é que hoje quero falar ainda menos,
dizer pouco — me calar.
acho que assim a tristeza consegue ser menor
e ir pingando bem devagar —
até alcançar o chão.
melhor do que sair por aí
queimando os outros com palavras cortantes —
eles já têm as suas tristezinhas.
e não quero que pensem que sou egoísta —
porque isso
eu não sou.

Para a pessoa mais insuportavelmente irresistível do mundo...

Odeio o modo como fala comigo
E como corta o cabelo
Odeio como dirigi o meu carro
E odeio seu desmazelo
Odeio suas enormes botas de combate
E como consegue ler minha mente
Eu odeio tanto isso em você
Que até me sinto doente
Odeio como está sempre certo
E odeio quando você mente
Odeio quando me faz rir muito
Mais ainda quando me faz chorar...
Odeio quando não está por perto
E o fato de não me ligar
Mas eu odeio principalmente
Não conseguir te odiar
Nem um pouco
Nem mesmo por um segundo
Nem mesmo só por te odiar