Dizem por aí, uns sujeitos indefinidos, que um jovem agricultor, de uma cidade longíqua, lá no interior, apaixonou-se por uma bela moça.
Bem apessoada e de fino trato, a jovem donzela vivia às voltas com seu livro de poesias. O agricultor, pobrezinho, só conhecia terra e sementes, o arado que o cavalo puxava com força.
Era tempo de plantio, de palavras e de amor, sol para um, chuva para outro. Equlíbrio que a natureza havia de conceder.
O jovem agricultor bate à porta da moça que atende cautelosa e o ouve dizer:
Chegaste de repente
E sem aviso roubaste meu coração
Com teu olhar reluzente
E com teu livrinho nas mãos
Morena da pele de porcelana
Tal qual meus olhos nunca viram igual
Quis fazer-te minha dama
E proteger-lhe de todo mal
Porém o destino me foi cruel
Fez-me pobre, possuidor de nenhum vintém
Mãos calejadas escrevem-lhe ao léu
Estas sinceras palavras que valor algum têm
Mas guardes na memórias
Este pobre jovenzinho que te queres tão bem
Talvez sirva de história
Aquele que te bem quiseres também
Os olhos da jovem donzela iluminaram-se e ela retrucou:
Meu jovem agricultor
Pareces não conhecer bem teu ofício
Decerto o fazes com amor
Mas exige-lhe também sacrifício
Não percebes em que tempo estamos?
A vida, meu bem, sempre se ajeita
Já passaram-se dois anos
Já é hora da colheita
Dizem, os mesmos sujeitos indefinidos, que a jovenzinha largou a família rica para viver com os pés descalços na terra, com o poeta agricultor. Que eles têm uma vida sossegada, sem luxos, mas com muito amor.
Se a história é verdadeira? Esta pergunta eu também me faço. Prefiro acreditar que sim, que o amor pode vencer as barreiras enfim.
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