Maria, a amiga da chuva.

O dia estava quente
Ela ia e vinha
Com os pés descalços
no chão de terra batida
Pra sentir a vida
Chamar a chuva
-Maria, entra que vai cair um temporal.
- Onde? Onde? De onde vem? Vai demorar?
Os olhos fechados
Rosto inclinado para cima
Ela sentiu a água escorrer por sua face
- Viu só mamãe, eu chamei e ela veio. Aposto que também estava com saudades.
Saltitando, serelepe de volta para casa
Maria respingava de lama seu uniforme
azul-menina.

Sentimentalismo

Às vezes,
gosto de esquecer que existo.
Mas só às vezes.
Afinal,
a vida não teria graça se eu não existisse nunca.

Desculpe o Transtorno.

Para melhor satisfazer suas necessidades.
Estamos em obras por tempo indeterminado.
Desculpe-nos o transtorno.
Voltamos Já.

Recompensa

Está quente aqui
Quente demais
Já disse que não gosto de calor?
Calor me entristece.
Vem chuva! Vem chuva!
Vem chegando de mansinho
Me invadindo sem pedir licença
Ai, ai...
Aí vem a chuva.

Selo Blog Amigável

Recebi este selo maravilhoso do The Bottom of The Grave, mal posso mensurar o quanto fiquei contente, e orgulhosa, por alguém gostar do que escrevo. Na verdade cada comentário, cada crítica construtiva, cada elogio que recebo pelo blog, me incentivam e me fazem vibrar como uma garotinha que acabara de ganhar seu pirulito após uma consulta no dentista. Bem, o Pedro já tem me presenteado há algum tempo com algumas ótimas leituras e agora ele me vem com essa surpresa. Ah, deixe-me falar um pouco do Pedro, com seus animais, e fantasias, seus versos e poemas, seus randoms e seu chocolate.  
Gosto de lê-lo, ponto.
É quase automático, ligo o computador, blog do Pedro (e da Paju também^^), sempre ansiosa por algo novo. Surpreendente. E nunca, nunca me frustro.
Obrigado Pedro, desculpe pelas poucas palavras de hoje, mas como já lhe disse, não consigo encontrar as corretas.

Bom, seguindo a regra, devo presentear 10 blogueiros (só??). Tarefa um tanto quanto injusta.

Gosto muito de todos estes, há muitos outros, mas infelizmente só pude escolher 10. Espero que vocês também gostem.

Sem mais.

Um corredor

Ele corria.
Corria pois era só o que sabia fazer.
Corria para matar a fome, e para não matá-la.
Ela esperava.
Esperava pois era só o que sabia fazer.
Esperava não morrer de fome, e não deixá-lo morrer.

Um dia ela cansou de esperar.
Estou indo embora.
Não, você não está.
Você finalmente morreu.

Ela pegou a mala,
atravessou o corredor.
O acertou bem em cheio.
Adeus.

Pela primeira vez na vida. 
Ele não correu.
E ainda espera que ela volte. 

Pessoal e intransferível

Há dias em que eu não quero contar casos, histórias. Essas minhas bobagens costumeiras. Às vezes eu quero falar de mim. E ser ouvida.

Eu gosto das coisas claras. Assim, como tem que ser.
E gosto de escrever. Mais que isso.
Transpor a barreira da mente e descrevê-la.
Não há utilidade para os pensamentos se permanecerem tal qual foram concebidos.
Não há valor na palavra falada, mas a escrita...
Que poder!
Não gostava de títulos. De rótulos, nerd já bastava.
Mas aprendi a associá-los, de uma maneira muito íntima aos textos.
Deixando de lado o âmbito literário, não sou muita coisa. Nada.
Pra ser honesta.
Penso diferente, mas não sou.
Todos pensam diferente.
Somos todos iguais.
Que paradoxo. Não gosto de paradoxos.
Já disse que gosto das coisas claras.
E simples.
E puras.
E inexistentes.
Mais nada.

Automatish

Inspirado pelas palavras da Paju. "Imagino-nos como pedras brutas, sendo moldadas, e nunca, NUNCA mais sendo as mesmas" Detalhes, oh preciosos detalhes.

Ele entrou no banheiro. Despiu-se.
Entrou no box, fechou a cortina. Ligou o chuveiro.
Deixou escorrer a água sobre o corpo, quem sabe assim se livrasse de seus erros, seus desejos inadequados, sua moral distorcida.
Num impulso tomou para si o sabonete e a esponja. Começou a esfregar-se freneticamente, tentando apagar as marcas da noite que passara, a sujeira de bocas imundas, de corpos desgastados e vazios. Sentia falta de mais alma, mais amor. Não encontraria nada disso nas ruas.
Pôs de volta no lugar seus insrumentos de tortura.
Enxaguou-se, a água morna lhe dava sono.
Desligou o chuveiro. Chuveiro, chuva... Ai, como eram bons os banhos de chuva.
Colocou o marcador na posição "Verão".
Ligou-o novamente.
Ah, como era agradável a água gelada lhe beijando a pele machucada. Aí vem novamente, a culpa, a mágoa, a maldita nostalgia. Em uma série de movimentos insanos ele começa puxar compulsivamente a cabeça para trás, numa tentativa vã de se desfazer de si mesmo.
Mas a chuva gelada sempre o acalma. Ele desliga o chuveiro. Pega a toalha e se seca suavemente. A pele ainda está sensível.
Sai do box e posiciona-se em frente ao espelho.
Aonde foi que me perdi? Que caminho errado tomei para me transformar neste monstro?
Ao observar seu reflexo no espelho, ele sorri.

Os olhos, ao menos os olhos, ainda guardam aquele menino que adorava tomar banho de chuva.

Submarino amarelo

O relógio marcava 22:34h no exato momento em que entrei no ônibus. A espera já havia sido demasiadamente cansativa, tendo em vista que este era um horário de fim de expediente para muitos, portanto, corri os olhos pelos poucos assentos vazios que restavam. Gosto de sentar-me à janela, sempre gostei de observar a vida fora daquele lugar asqueroso, pois, diga-se de passagem, o transporte público no Brasil é algo humilhante. Logo avistei um cantinho recôndito, esquecido. Apressei me ao passar pela roleta e corri de encontro ao cativante e nostálgico banco alto. Preparava-me para mais uma longa viagem de volta para casa recostando a cabeça na janela quando, não sei porque, perdi a concentração ao observar uma menina. "Menina..." rio-me sem motivação aparente. Ela aparentava ter no máximo 21 anos e tinha o olhar triste e desesperançoso. Parecia carregar as dores do mundo em um olhar. Desviei o olhar e tentei me ater ao movimento na rua, mas algo me intrigava sobre aquela garota. Passei toda a viagem observando-a. Ela parecia estar com os olhos colados na rua, e eu com os meus colados nela. Não nos distraimos com o sacolejo do ônibus, nem com as conversas paralelas, nem com os gritos de "Motorista, passou o ponto!!".
De repente, vejo algo brilhando em sua face e, quem dera fossem seus olhos, mas não, ela estava chorando. As lágrimas escorriam sem cessar e ela não fazia o menor esforço para contê-las. Acho que nunca havia presenciado uma cena tão emocionante em minha vida. Tive ímpetos de sair de meu lugar e ir abracá-la.
-Ela vai pensar que sou louco.
Mas e se ela só estiver precisando de um abraço, um consolo.
- Vá logo homem, deixe de ser covarde.
Eu já havia perdido a minha chance, enquanto me questionava e discutia comigo mesmo, a menina se preparava para descer. Passou uma alça da mochila após a outra, olhou no relógio, 23:13h. Levantou-se e saiu.
Na esperança de ter um instante de atenção dela, um olhar que fosse, a observei fora do ônibus. Ao passar, ela me olhou e sorriu.

Acho que no fundo ela sabia.

Ela, era eu.

Parasita

Hoje acordei excessivamente reflexiva e crítica em relação a tudo.
Às pessoas, sentimentos, prazeres e, principalmente a mim.
Tenho uma percepção muito diferente da vida, decerto cada um deveria ter a sua própria, mas em geral a grande massa divide a mesma percepção insensível, tola e fabricada.
Cresci tentando, frustradamente, materializar sentimentos e emoções que nem ao menos sei se eram reais. Hoje não acredito que tais coisas existam realmente embora ainda me negue a desistir de entender o funcionamento do cérebro humano, e quem sabe assim, ter um vislumbre, uma mágica compreensão do que seria essa medíocre existência.
Há muito venho tentando, em vão, encontrar em outras pessoas o que supostamente eu deveria ter em mim mesma: suficiência afetiva.
Na verdade fiz algumas considerações a respeito, e percebi que me assemelho a um parasita. Encontro uma vítima saudável, me uno a ela por meio de laços emocionais (seja uma simples amizade ou um relacionamento amoroso) e sugo todos os seus bons sentimentos. À propósito, não acredito em separação de bons e maus sentimentos, não vejo, em minha leiga opinião, o amor como um bom sentimento quando manipula e aprisiona. Da mesma maneira, não vejo a raiva como um sentimento ruim quando te faz abandonar a hipocrisia e dizer o que realmente pensa.
Depois que estou afetivamente satisfeita, descarto a minha vítima e sigo em busca de uma nova fonte de prazer.
Há quem diga que eu apenas não encontrei realmente o que desejo, mas acho que encontrei sim, acabei por me encontrar ao me perder assim. (sobre)Vivo , me alimentando dos outros, porque realmente não sou suficiente, não tenho nada a oferecer a ninguém, ponto.
São nesses raros momentos de lucidez, ao escrever, que relamente me sinto em paz. Dizendo a verdade a mim mesma, sem tentar me fazer acreditar em um futuro melhor. Em uma vida quiçá.

Nostalgia 2

...
Saudades daquela época
em que nada mais importava.
Éramos eu e você.
Nada mais.
...

Nostalgia

Esa noite foi estranha, sonhei com o João.
Bateu uma saudade doída.
Violenta.
Senti o seu cheiro. Seu gosto de cigarro.
Suas mão quentes.
Que saudade dos seus cachinhos.